
Um novo artigo de pesquisador Lucas Forti, associado aoo Brazilian Institute of Data Science (BI0S), publicado na revista Integrative Conservation em colaboração com coautores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido e Charles Darwin University, propõe a ciência cidadã como uma resposta inovadora à crise ambiental no Semiárido Brasileiro. O estudo defende que o envolvimento direto da população na coleta de dados ambientais pode preencher lacunas críticas de conhecimento e, ao mesmo tempo, ampliar a conscientização sobre conservação.
A Caatinga, bioma predominante na região semiárida, sofre com desmatamento, desertificação e salinização do solo, resultado de décadas de crescimento econômico desordenado. Estimativas recentes apontam que mais de 36% da região do semiárido está degradada e menos de 9% conta com proteção legal. Segundo Lucas Forti, autor principal do estudo, “os avanços tecnológicos e científicos são indispensáveis para enfrentar as crises ambientais. No entanto, a fragmentação do conhecimento sobre a biodiversidade e a ausência de infraestrutura adequada para monitoramento em larga escala dificultam a geração de dados consistentes — e, por consequência, a construção de políticas públicas mais eficazes em uma região que abriga mais de 22,5 milhões de habitantes.”
O artigo destaca que transformar cidadãos em cientistas, por meio do monitoramento participativo, é uma estratégia promissora para gerar dados em larga escala e fortalecer o vínculo entre ciência e sociedade. “Devemos cultivar um compromisso com a busca de dados motivada pela proteção de interesses coletivos”, afirma o pesquisador. Essa abordagem não apenas contribui para evitar extinções biológicas e injustiças ambientais, como também promove a alfabetização científica da população.
Um exemplo concreto é o Projeto Escutadô, iniciativa integrada ao BI0S e financiada pela FINEP, que combina ecoacústica e ciência cidadã para criar uma ferramenta que seja capaz de detectar tendências de degradação em áreas do semiárido com o apoio de inteligência artificial. O projeto envolve voluntários e comunidades locais na coleta de dados sonoros, demonstrando como a participação pública pode acelerar soluções ambientais e ajudar a alavancar grandes conjuntos de dados. O esforço dos voluntários resultou na coleta de mais de 16 mil horas de gravações em mais de 60 localidades do semiárido nordestino, cobrindo regiões do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba.
Publicado na Integrative Conservation, o artigo é um chamado à ação. Segundo os autores, fortalecer e expandir a ciência cidadã é essencial para enfrentar os desafios ecológicos do Semiárido — e de outras regiões vulneráveis do planeta.