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A trilha de pesquisa em agricultura aplica ciência de dados para melhores decisões no campo

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O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do planeta — mas também enfrenta um paradoxo: embora alimente parte significativa do mundo, ainda sofre com gargalos estruturais, desafios climáticos, escassez de dados e um uso limitado da tecnologia em decisões estratégicas no campo. Neste contexto, surge a Trilha Agro do BI0S, que atua para preencher essas lacunas e transformar a forma como o país produz, decide e planeja no setor agrícola.

Organizada em torno de um propósito claro — apoiar a tomada de decisões no agronegócio com base em dados e ciência aplicada — a trilha reúne pesquisadores de diversas áreas e instituições para trabalhar de forma multi e interdisciplinar. Os temas variam do impacto das mudanças climáticas à robótica no campo, passando por pecuária, sensoriamento remoto e análise da percepção dos produtores rurais.

O foco está em desenvolver decisões agrícolas orientadas por dados, em três escalas temporais: do curto prazo, como decisões sobre irrigação, ao médio prazo, como o planejamento da colheita, até o longo prazo, que envolve estratégias climáticas, gestão territorial e formulação de políticas públicas. Para isso, a trilha promove o cruzamento de bases ambientais, produtivas, econômicas e sociais, com a convicção de que ciência e a tecnologia devem andar juntas na formulação de soluções eficazes.

Uma das barreiras enfrentadas é a ausência de dados organizados e acessíveis sobre o setor produtivo. Mesmo o poder público, muitas vezes, precisa definir políticas sem informações precisas sobre clima, produtividade ou risco. Para enfrentar esse desafio, a Trilha Agro está criando infraestruturas integradas de dados, voltadas a subsidiar decisões mais estratégicas.

Entre os projetos prioritários, destacam-se iniciativas que nascem de demandas concretas do campo. Na produção de café e cacau, estudos analisam como os agricultores interpretam riscos ambientais e como isso influencia sua capacidade de adaptação. Em parceria com a Trilha Saúde, outra frente cruza dados epidemiológicos e ambientais, mapeando os impactos do clima sobre a saúde pública. Já no setor pecuário, ferramentas de IA são desenvolvidas para o reconhecimento individual de animais e monitoramento remoto da qualidade das pastagens. Além disso, diante da crise crescente das queimadas — que já atingiram um terço do território nacional — a trilha lidera um projeto de prevenção com apoio do IMECC e do CEPAGRI, utilizando imagens de satélites e dados históricos.

Esses projetos têm um ponto em comum: são pensados para gerar dados e soluções baseadas em IA, tanto para grandes produtores quanto para agricultores familiares, além de fornecer subsídios concretos para políticas públicas em escala nacional.

A coordenação da trilha está nas mãos de Jurandir Zullo Junior, pesquisador do CEPAGRI/Unicamp desde 1987. Com uma trajetória consolidada em agrometeorologia, planejamento agrícola e sensoriamento remoto, Zullo é uma das lideranças técnicas mais reconhecidas no setor. Sua missão é integrar núcleos de pesquisa distintos e transformar conhecimento em impacto direto no campo.

Entre as soluções tecnológicas em desenvolvimento estão: robótica aplicada à agricultura de precisão; monitoramento climático com imagens de radar e satélites; modelagem de mudanças ambientais; apoio à seleção genética de sementes e grãos; e a criação de bancos de dados inteligentes adaptados a diferentes culturas e realidades produtivas. Além disso, a trilha se compromete com a divulgação científica e com a comunicação direta com o campo — porque inovação só se realiza quando a informação chega a quem toma as decisões.

O trabalho da Trilha Agro é também um esforço em direção à soberania alimentar brasileira. Ao gerar valor no território nacional, promover o uso de inteligência climática e romper com a dependência de insumos importados, a trilha aponta para um campo mais eficiente, resiliente e sustentável. Nos próximos anos, o objetivo é consolidar o modelo multi e indisciplinar e ampliar as parcerias com outras trilhas do BI0S e centros de pesquisa do país. Como afirma Jurandir Zullo: “O Brasil tem condições de liderar a agricultura baseada em dados no mundo. O que nos falta em alguns pontos de infraestrutura, temos de sobra em capacidade técnica e conhecimento aplicado.”

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